Arquidiocese de Botucatu

Padroeira

Padroeira Sant’Ana

Joaquim, que era da Galiléia, do povoado de Nazaré, casou-se com Ana, que era de Belém. Ambos eram justos e para cumprir retamente a vontade do Senhor, dividiam em três partes o que ganhavam: uma delas davam ao templo e aos que estavam a serviço do mesmo; outra a davam aos peregrinos e aos pobres, e a terceira guardavam-na para si e para a família.

Durante vinte anos de matrimônio, não tinham tido filhos, e fizeram um voto ao Senhor de que, se lhes desse um descendente, o consagrariam ao seu serviço. Para obter este favor, todos os anos iam a Jerusalém nas três festas principais. No dia da festa da Dedicação, Joaquim subiu a Jerusalém com os da sua tribo e se aproximou com os demais do altar para apresentar a oferenda. Porém, o sacerdote, ao vê-lo, o repeliu com grande indgnação, dizendo-lhe que não tinha o direito de aproximar-se do altar, porque um homem amaldiçoado pela Lei não podia apresentar oferendas ao Senhor: um homem estéril como ele, que não tinha feito crescer o povo de Deus,não podia andar com os que não estavam contaminados com aquela mancha.

Então Joaquim, muito confuso, teve vergonha de voltar para casa, com receio de que os de sua tribo que tinham ouvido as palavras do sacerdote lhe dissessem a mesma coisa. Foi morar com seus pastores e, após ter passado um tempo com eles, um dia quando estava sozinho lhe apareceu um anjo resplandecente e lhe disse: “Eu sou um anjo enviado pelo Senhor para te dizer que tuas preces foram ouvidas e que tuas esmolas subiram até a presença de Deus. Vi a tua vergonha, e ouvi as censuras de esterilidade que te fizeram sem razão. Deus castiga o pecado, e não o que é fruto da natureza. E se ele fechou o ventre de uma mulher para depois torná-lo fecundo de um modo mais maravilhoso, é para dar a conhecer que a criatura que irá nascer então não será fruto da paixão, mas um dom de Deus. Sara, a primeira mulher da tua raça, acaso não teve que suportar o opróbrio da esterilidade até os noventa anos de idade? E não pôs então no mundo Isaac, a quem haviam sido prometidas todas as bênçãos?”

E prosseguem as palavras do anjo, lembrando outros nascimentos inesperados e prometendo, por fim, o nascimento de uma filha, que será a mãe do Filho de Deus.

O tempo de Ana cumpriu-se e no nono mês deu à luz. Perguntou à parteira: A quem dei à luz? A parteira respondeu: Uma menina.

Então Ana exclamou: Minha alma foi enaltecida.

E reclinou a menina no berço.

Ao fim do tempo marcado pela lei, Ana purificou-se, deu o peito à menina e pôs-lhe o nome de Maria. Dia a dia a menina ia robustecendo-se. Ao chegar aos seis meses, sua mãe deixou-a só no chão, para ver se sustentava-se de pé. Ela, depois de andar sete passos, voltou ao regaço de sua mãe.

Esta levantou-se, dizendo: Salve o Senhor! Não andarás mais por este solo, até que te leve ao templo do Senhor. Fez-lhe um oratório em sua casa e não consentiu que nenhuma coisa vulgar ou impura passasse por suas mãos. Chamou, além disso, umas donzelas hebréias, todas virgens, para que a entretivessem.

Ao chegar aos três anos, disse Joaquim: Chama as donzelas hebréias que não têm mancha e que tomem, duas a duas, uma candeia acesa e a acompanhem, para que a menina não olhe para trás e seu coração seja cativado por alguma coisa fora do templo de Deus. Assim fizeram enquanto iam subindo ao templo de Deus. Lá recebeu-a o sacerdote, o qual, depois de tê-la beijado, abençoou-a e exclamou: O Senhor engrandeceu teu nome diante de todas as gerações, pois que, no final dos tempos, manifestará em ti sua redenção aos filhos de Israel. Fê-la sentar-se no terceiro degrau do altar. O Senhor derramou graças sobre a menina, que dançou cativando toda a casa de Israel. Saíram, então, seus pais, cheios de admiração, louvando ao Senhor Deus porque a menina não havia olhado para trás.

Maria permaneceu no templo como uma pombinha, recebendo alimento pelas mãos de um anjo.

Certamente esta história é inspirada nos relatos do Antigo Testamento e também no Novo Testamento, e carece de valor histórico. Mas pode nos ensinar algumas coisas. Além das curiosidades (por exemplo, tradições como a que Joaquim era rico, com pastores a seu serviço, ou que Ana não era de Nazaré, mas de Belém), vale a pena fixarmo-nos num par de afirmações que destacam aspectos importantes de sua vida de homem fiel.

A primeira delas, muito clara, é sua consciência de que a riqueza tem que ser distribuída. De tudo quanto possuem, de tudo quanto ganham, Joaquim e Ana só retêm a terça parte. As outras duas partes vão para onde têm que estar os interesses básicos de quem quer ser fiel a Deus: de um lado, para os pobres; de outro lado, para a vida religiosa. A mensagem é clara: Deus, para agir, precisa que o homem tenha um espírito de justiça e de generosidade, que esteja convicto de que aquilo que alguém possui é para o bem de todos, e que demonstre isso com fatos concretos. É a partir disso que Deus pode realizar a sua obra salvadora. A segunda afirmação é um convite para não querer intervenções sobrenaturais (positivas ou negativas) nas coisas que acontecem na vida e, por conseguinte, para não recusar ninguém por sofrer alguma desgraça, seja de que espécie for, nem para ficar deslumbrado perante ninguém por ter obtido êxitos de qualquer espécie.

Mas, muito pelo contrário, o anjo convida a lembrar, mais uma vez, que Deus está mais próximo dos que sofrem