“Creio na comunhão dos santos… na vida eterna.” Amém!
No dia primeiro de novembro celebramos a festa de todos os santos e santas. São testemunhas vivas, concretas e históricas de que é possível viver o Evangelho: pensar, agir e amar como Jesus. Os santos e santas demonstram ainda que vale a pena fazer todo e qualquer sacrifício por amor a Jesus e seu Reino.
A santidade é dom de Deus, concedida a nós a partir do batismo. Portanto, toda pessoa batizada é santa e chamada a caminhar e a crescer cada vez mais em santidade, sempre com a indispensável ajuda da Graça de Deus que nos é oferecida por meio dos sacramentos, particularmente a Eucaristia, que por, sua vez, pressupõe vida comunitária e fraterna. Por isso, no dia dois de novembro celebramos todos os fiéis falecidos, isto é, todos os que se tornaram discípulos-missionários de Jesus Cristo pelo batismo-crisma e perseveraram até o fim no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações. (cf. At 2,42)
Cremos que eles encontram-se, no mínimo (no purgatório) a caminho da participação plena da Gloria de Deus no céu. Acreditamos, pois, que eles estão vivos. Um dos crucificados acreditou e confessou: “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres em teu Reino.” Imediatamente ouviu de Jesus crucificado: “Eu lhe garanto: hoje mesmo você estará comigo no Paraíso.” (Lc. 23, 42s)
Sim, nosso destino é a Vida Eterna em plena comunhão com Deus Pai, Filho, Espírito Santo e com os irmãos e irmãs.
Aqui na terra, encontramo-nos mais ou menos como uma criança no seio materno.
Nenhuma criança é concebida para permanecer eternamente no ventre materno. O tempo é limitado a no máximo nove meses. A criança que não quiser sair estará fazendo uma opção de morte. O útero da mãe, maravilhoso princípio da vida, pode se transformar no túmulo da própria criança.
Mas, por que uma criança se recusaria a nascer?
Há, pelo menos, três possibilidades: a primeira é que a criança, no ventre materno, encontra-se totalmente segura, protegida pelo líquido amniótico, alimentada diretamente pelo umbigo e aquecida pelo calor materno; a segunda é que o mundo que a criança conhece é o intrauterino e surge, então, a dúvida sobre a existência de outro mundo; por fim, vamos supor que a própria mãe consiga convencer a criança sobre a existência do outro mundo e a necessidade de sair, dizendo a ela que não tenha medo e confie em sua mãe, pois neste outro mundo é que ela vai poder crescer e atingir a plenitude de suas potencialidades: pensar com a própria cabeça, andar com as próprias pernas e se relacionar com tantas outras pessoas, enxergar com os próprios olhos e contemplar o sol, a lua, as estrelas, a infinita combinação de cores das flores e dos pássaros e experimentar tantas outras maravilhas… Ainda assim, a criança poderia se recusar a sair, vencida pelo medo do sofrimento e perigo de morte, pois a porta é bastante estreita.
É o que acontece conosco. Primeiro, nos apegamos ao corpo e às maravilhas da terra e nos acomodamos a esta segurança temporária. Segundo, duvidamos da existência do Céu porque não podemos vê-lo ou entendê-lo. Terceiro, quando Deus mesmo, na pessoa de seu Filho Jesus Cristo, nos redime de todo pecado, nos convence da existência de vida para além da morte e nos abre as portas do Céu com sua Paixão, Morte e Ressurreição, nós, ainda assim, vacilamos porque ficamos com medo de amar, pensar e agir como Jesus e nos darmos mal.
Deus nos criou para a Vida Eterna. Não nascemos, pois, para permanecer para sempre aqui na terra. Nossa vida tem início aqui, mas nosso destino é o Céu. E se quisermos nos encontrar com todos os nossos entes queridos que já desfrutam da Glória de Deus escutemos bem a palavra de Jesus: “Entrai pela porta estreita; porque é larga a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição, e são muitos os que por ela entram. Quão estreita é a porta, quão apertado o caminho que leva à vida, e são poucos os que a encontram!” (Mt.7, 13s). E mais: “Quem quiser salvar sua vida perde-la-á!”
D. Maurício Grotto de Camargo
Arcebispo de Botucatu