Chernobyl: 35 anos entre feridas ainda abertas e temores
A conscientização do que tinha acontecido não chegou naquelas horas ou mesmo no dia seguinte. Passou algum tempo, o suficiente para entender que foi uma primeira e dramática vez. O acidente nuclear de Chernobyl de 26 de abril de 1986 é um evento histórico de memória indelével há mais de uma geração. Desde então passaram 35 anos, mas as consequências ainda são claramente visíveis na história de inúmeras pessoas. No seu presente, no seu passado recente. Nas perguntas sobre um futuro onde, globalmente, incidentes semelhantes poderiam acontecer novamente.
O que aconteceu há 35 anos
Segundo a versão mais acreditada, durante a execução de um teste de simulação de falha do sistema de refrigeração do reator número 4 (não o primeiro, outros tinham sido feitos em anos anteriores), devido a erro humano, as hastes de urânio do núcleo do reator superaqueceram, causando a fusão de seu núcleo. Foi atingido um valor de até cem vezes o limite estabelecido. A repentina onda de energia causou uma explosão com uma liberação de radioatividade maior do que as bombas de Hiroshima e Nagasaki juntas. Deve-se dizer que já em 1986 a AIEA – Agência Internacional de Energia Atômica – havia indicado os operadores como a principal causa do acidente. Sete anos depois, a própria AIEA revisou sua análise do acidente, atribuindo a causa principal ao projeto do reator, e não aos operadores. A consequência desse acidente, que ocorreu pouco depois da 1 da manhã, foi a liberação de toneladas de material radioativo que o vento levou por toda a Europa e atingiu o Mediterrâneo nas duas semanas seguintes.
As consequências
Os dados sobre as vítimas diretas e indiretas do que aconteceu em 26 de abril de 1986 em Chernobyl não são unívocos. Vinte anos depois, a Organização Mundial da Saúde, em um relatório, estimou que poderia haver pelo menos 10 mil mortes por câncer atribuíveis ao acidente de Chernobyl entre pessoas pertencentes a equipes de emergência, evacuados e residentes das regiões de alta e baixa contaminação de Belarus, Rússia e Ucrânia, as três regiões mais afetadas da União Soviética. Os números de cânceres são obviamente maiores, considerando também os outros países afetados pelo material radioativo liberado naquela noite.
As orações de João Paulo II
No Regina Coeli de 4 de maio de 1986, João Paulo II lembrou a celebração da Páscoa do Senhor nas Igrejas Orientais, expressando um pensamento especial para o povo de Kiev e da Ucrânia:
“Hoje as Igrejas Orientais celebram a Páscoa. Gostaria de convidar aos aqui presentes a se unirem em oração e na fervorosa esperança de que esta celebração seja para eles uma fonte de alegria e luz. A Ressurreição do Senhor é o evento fundamental dos cristãos […] A todos os que hoje celebram a Páscoa, ortodoxos e católicos, dirijo meus pensamentos, em particular o afeto por aqueles que, por alguma razão, estão sofrendo. Eu penso, com especial intensidade de sentimento, do povo de Kiev e da Ucrânia”.
Futuro de paz para as novas gerações
Por ocasião do décimo quinto aniversário do acidente nuclear de Chernobyl, João Paulo II conheceu então as associações, movimentos, famílias e paróquias que haviam acolhido as crianças da região. Em uma passagem de seu discurso proferido em 26 de abril de 2001 – dois meses antes de sua Viagem Apostólica à Ucrânia – o Papa fez um forte apelo:
“Recordando os trágicos efeitos provocados pelo incidente do reator nuclear de Chernobyl, o pensamento volta-se para as gerações futuras, representadas por estas crianças. É necessário preparar um futuro de paz, desprovido de medos e de semelhantes ameaças. Eis aqui um compromisso para todos. A fim de que isto aconteça, é preciso que haja um comum esforço técnico, científico e humano para poder dedicar todas as energias ao serviço da paz, no respeito das exigências do homem e da natureza. É desde empenhamento que depende o porvir de todo o género humano. Enquanto rezamos pelas numerosas vítimas de Chernobyl e por quantos trazem no seu corpo os sinais de uma catástrofe tão grande, invoquemos do Senhor luz e sustento para aqueles que, a vários níveis, são responsáveis pela sorte da humanidade”.
Fonte: VaticanNews