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Arquidiocese de Botucatu

Sem categoria › 01/01/2016

Missão: Sem. Matheus partilha sua experiência na Fazenda da Esperança

Matheus GodoiO seminarista Matheus Henrique Godoi, está na caminhada de discernimento vocacional há 2 anos, em nossa Arquidiocese de Botucatu. Em 2014, ele cursou o Propedêutico no Seminário Arquidiocesano São José, e a convite do Conselho de Formação Presbiteral realizou durante o ano de 2015, uma experiência missionária na Fazenda da Esperança. A partir de fevereiro de 2016, ele inicia o curso superior de Filosofia, na Faculdade Salesiana Dom Bosco, em Manaus – AM, e residirá na Fazenda da Esperança, juntamente com os seminaristas Richard e Renato, ambos de nossa Arquidiocese.

Em conversa com o seminarista Marco Raphael, da Pastoral da Comunicação, Matheus partilhou seu ano de experiência. Confira a entrevista abaixo:

Como foi para você iniciar o ano de 2015 com essa nova experiência missionária?

Cheguei na na Fazenda da Esperança, na unidade São Libório (conhecida, carinhosamente, como Pedrinhas), em Guaratinguetá – SP, no dia 09 de Fevereiro juntamente com o seminarista Renato. Ele cheio de alegria e emoção, eu com muita dor dos últimos acontecimentos. Minha avó paterna havia falecido, há 7 dias, de forma rápida e dolorosa para a família. Estava de luto.
Sem dúvida, fomos bem acolhidos por todos – responsáveis e meninos – da Fazenda. E começamos nossa experiência: fomos morar na casa dos acolhidos (os meninos que acabam de chegar para a internação). Já comecei a fazer uma experiência: chegamos com chuva forte, a energia da casa que fiquei havia acabado. Conclusão: não sabia onde estava, enxergava mais ou menos o rosto dos meninos da casa, jantamos (comida maravilhosa) a luz de lanternas (rsrs) e tomei um banho geladíssimo. Quando deitei para dormir, a luz voltou. Comecei muito bem!

E o processo de adaptação na Fazenda da Esperança, como foi?
Confesso que a adaptação foi um processo um pouco difícil, mas não impossível. Fazia o que os meninos faziam: capinar, trabalhar com foice, rastelar, artesanato, limpeza etc. Estava junto, fazendo unidade. Aos poucos fui me acostumando, entendendo o processo, entrando na rotina e aprendendo sobre o universo das drogas.
Praticamente todas as vezes que ouvia a história, o testemunho, a dor, sofrimento de algum deles me emocionava. Ali, eles compartilhavam aquilo que doía a eles comigo – voto de confiança. Então, pude também compartilhar as minhas dores.

E a convivência com os meninos que passam por recuperação na Fazenda, como você avalia?
O legal da Fazenda é que eles vivem a Palavra, o Evangelho. A fé teórica passa para uma fé prática. É colocar as linhas do Evangelho, suas palavras em ações concretas, como se criasse vida aquilo que Cristo pregou. Fui, aos poucos, tentando colocar em prática. Ficava muito forte para mim: amar o irmão, amar o Jesus Abandonado no irmão. Eu procurava ver Jesus em todos. E com, a graça de Deus, fiz muitas experiências na Fazenda.
Não poderei me esquecer da encenação da Paixão e Morte de Jesus que fizemos na Páscoa, dos eventos que servi e participei (Gen Rosso e Mariapólis, por exemplo), da Missa dos Santos Óleos que participei em Aparecida e também da caminhada a pé (24 km) rumo a casa da Mãe (Aparecida).

Como você disse, na Fazenda se vive a Palavra, qual experiência mais te marcou nesse um ano?
Duas experiências me marcaram profundamente. Ambas foram quando eu estava coordenando a casa Antônio Cortez (casa de acolhida).
Uma foi em Setembro, onde a Palavra do Mês, para se viver, era: “Amai o teu próximo como a ti mesmo”. Tínhamos acolhido cerca de 23 novos internos. Um deles era um senhor, de idade, que havia chegado apenas com uma pequena mala. Tinha saído da cadeia há alguns meses e seu filho se encontrava preso também. Veio com muita dor, raiva, mágoa, ódio. Ele deu muito trabalho. Falava muito em gíria de cadeia, xingava, acordava de madrugada e gritava pela casa, brigava com qualquer coisa, não obedecia. Queria viver a Palavra e então comecei a fazer atos de amor por ele: um dia lavei sua louça, outro dia arrumei sua cama, outro conversei, ouvi sua história, elogiava-o. Muitas vezes ele brigava comigo. Percebi que ele não tinha roupa de cama, então arrumei um cobertor, travesseiro e lençol para ele. No começo ele não aceitou muito, mas insisti muito e ele ficou com as coisas. E fui amando. Um dia ele me chamou para conversar e me disse: “Matheus. Queria te pedir perdão. Minha vontade, no começo, quando te via era te esganar com minhas mãos; apertar seu pescoço. Mas, graças a você, pude ver o que eu preciso mudar. Vi Jesus em você. Obrigado”. Isso me tocou profundamente. Ele que havia dito que ficaria apenas 10 dias na Fazenda completou, dia 29 de Dezembro, 4 meses. Fez Primeira Eucaristia (eu o preparei) e está muito feliz. Fruto do amor que resolvi dar.
Outra experiência marcante foi com um interno que veio da rua. Usuário de crack e todas outras drogas, estava muito debilitado, frágil, fraco. A Palavra do Mês era: “Nisto conhecerão que sois os meus discípulos: se amardes uns aos outros”. Ele, por conta da vida que levava, tinha abstinência muito forte. Decidi amá-lo. Tornei-me pai de um cara de 40 e poucos anos. Ele fez de tudo: fugiu, se escondia, não queria fazer nada, tentou se matar, tentou me dar uma pedrada na cabeça, me xingou e muitas outras coisas. Mas era Jesus. Eu dei roupas a ele, estava sempre junto, conversava, aconselhava. Ele tinha platinas na perna, então eu decidi sempre acompanha-lo na descida e subida para a Missa – sempre éramos os últimos. Ele passava mal (problema de gastrite) e vomitava sangue, então cuidamos dele. Arrumamos os remédios, dava na hora certa, cheguei a ficar de madrugada com ele. Várias vezes perdi a Missa, a Adoração para ficar com ele Lembro de uma cena que ele desmaiou, de repente, e começou a ter convulsão. Não podíamos fazer nada, apenas coloca-lo na posição correta e rezar para que tudo aquilo passasse. Ali eu via o Jesus, totalmente, abandonado. Por duas semanas dediquei toda a minha vida a ele, com força e intensidade. Infelizmente, ele optou em sair do tratamento, a voltar para a rua e as drogas. Isso me dói, então, desde então, rezo por ele, para que Deus toque no coração dele e ele decida voltar e mudar de vida. Graças a este homem, tive um encontro com Deus, com Jesus Abandonado.

Que palavras marcaram esse seu primeiro ano na Fazenda da Esperança, e quais são suas expectativas para o ano de 2016?
Duas palavras marcaram o ano de 2015, em minha vida: recomeço e esperança. Recomeço de uma vida nova, de um reencontro comigo mesmo e esperança que o mundo pode ser melhor, que é possível amar, viver a Palavra.
Por isso optei de continuar minha experiência na Fazenda. O arcebispo Dom Maurício junto ao Conselho de Formação, com a graça de Deus, atendeu meu pedido e estarei indo a Manaus, morar na Fazenda e cursar a Filosofia, dando assim continuidade a minha caminhada de discernimento vocacional, estou muito feliz.

Fonte: Pastoral da Comunicação – Catedral Sant’Ana de Botucatu.

 

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