Como ser verdadeiramente misericordioso Como ser verdadeiramente misericordioso

Arquidiocese de Botucatu

Artigos › 10/04/2021

Como ser verdadeiramente misericordioso no dia a dia?

A festa da misericórdia convida-nos a descobrir mais profundamente como o Senhor, “Deus compassivo e misericordioso, lento para a cólera, rico em bondade e em fidelidade” (Ex 34, 6), se compadece diante da miséria do homem pecador. Ele acolhe a todos que o clamam e pede apenas uma coisa: que tenhamos a simplicidade e a audácia – a das crianças – de nos lançarmos nos seus braços, de recorrer ao seu amor. Quanto mais percebemos até que ponto o Senhor deseja preencher cada homem com a sua misericórdia, mais nos sentiremos chamados a ser testemunhas.

É impossível acolher a misericórdia sem ser misericordiosos

O mais terrível não é pecar, mas duvidar da misericórdia de Deus. Para entender isso, basta comparar o desespero de Judas e as lágrimas de Pedro depois que ambos traíram Jesus. Um enforcou-se, o outro permitiu-se reconciliar com o seu Senhor e tornou-se o grande santo que conhecemos.

Não podemos acolher a misericórdia sem ser misericordiosos. “Perdoai-nos, assim como nós perdoamos”, dizemos no Pai Nosso. “Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36), insiste Jesus, que nos conta a história do devedor impiedoso, para fazer-se compreender ainda melhor (Mt 18, 23-35). Ao recusar a perdoar nossos irmãos quando somos perdoados por Deus, estamos agindo como o devedor impiedoso, que tem um coração duro.

A misericórdia é ternura fiel, compaixão

A misericórdia nos desarma. Em vez de fazer emergir em nós o juízo que condena, em vez de colocar palavra duras em nossos lábios, ela abre o nosso coração à miséria dos nossos irmãos. “Nós irradiamos a Deus”, disse Marthe Robin. Portanto entendemos que a misericórdia só se anuncia vivendo, todos os dias, lá onde estivermos.

A misericórdia não é apenas perdão. Trata-se de uma ternura fiel, uma compaixão que envolve a pessoa no fundo do seu ser. E isso acontece diante de todos os tipos de miséria: a do pecado, é claro, mas também a fome, a sede, o isolamento, o desespero, a privação da liberdade, a dor física, a degradação social. Em suma, tudo o que Jesus cita quando fala do Juízo Final: “Tive fome, tive sede, fui prisioneiro, doente, estrangeiro…” (Mt 25, 31-46). “Instruir, aconselhar, consolar e suportar com paciência são obras de misericórdia espiritual, assim como perdoar e perseverar com paciência. As obras de misericórdia corporais incluem alimentar os que têm fome, acolher os sem-teto, vestir os maltrapilhos, visitar os doentes e prisioneiros, enterrar os mortos” (Catecismo da Igreja Católica, § 2447).

Só vivemos a misericórdia quando nos juntamos ao outro em sua miséria

As obras de misericórdia não são “boas obras” no sentido estrito do termo. Todos nós vivemos a tentação de vir ao socorro do nosso próximo do alto de nossas virtudes, da nossa devoção, da nossa situação social, dos nossos meios materiais. Mas nesse caso, não se trata de uma questão de misericórdia, pois só experimentamos a misericórdia quando nos juntamos ao outro em sua miséria, o que envolve a aceitação de nossa própria miséria. Apenas concordando em me reconhecer como pobre e pecador diante de Deus, me colocando diante dele com a minha pobreza, posso receber o seu amor de misericórdia, que me permitirá amar aos meus irmãos. Não se trata de fingir uma “pobreza espiritual” negando as minhas capacidades e as minhas riquezas. Trata-se de estar bem ciente de que nada mereci, de que tudo me foi dado de graça e de que sou, fundamentalmente, um “pequenino” que tudo deve ao seu Pai.

Isso se reflete, em particular, em todas as tarefas educativas. A misericórdia é como o tom da educação cristã. É ela que nos torna pacientes, disponíveis para ouvir e consolar, para explicar cinquenta vezes a mesma coisa e para repetir sempre as mesmas tarefas; que abre o coração e os braços para acolher o filho pródigo e que perdoa “setenta vezes sete”. Essa misericórdia nos faz, antes de tudo, nos aceitar tal como somos, sem nos irritar com os nossos próprios limites. Nossa autoridade parental será ainda maior porque não será baseada nas nossas forças, mas no Senhor. E seremos ainda mais pacientes com nossos filhos ao confiarmos constantemente, com todas as nossas fraquezas e erros, em sua infinita misericórdia.

 

Fonte: Aleteia

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